Existe um fator que pode efetivamente diminuir a relevância da Microsoft na indústria de jogos: o lento – ou insuficiente – crescimento do Game Pass nos próximos quatro anos.

Essa afirmação não vem de boatos ou analistas econômicos, mas sim do próprio Phil Spencer, chefe global da marca Xbox. De forma inequívoca, ele afirmou que a Microsoft deixaria efetivamente a indústria dos videogames se a plataforma de assinatura de jogos da empresa não se tornasse “muito maior, muito mais rápido”.

Phil Spencer, CEO e chefe global da marca Xbox, na Microsoft (Foto: eVRydayVR/Reprodução)

Essa informação vem de documentos judiciais recentemente vazados, relacionados aos planos da Microsoft em diversos aspectos – os mesmos documentos que revelaram o calendário de lançamentos da Bethesda Game Studios, o interesse não realizado de comprar a Nintendo e outras ideias.

Para contextualizar: o advogado da Federal Trade Commission (FTC) dos EUA, James Weingarten, apresentou a Spencer o gráfico de projeção acima, referente ao crescimento estimado do Game Pass. De acordo com o documento, espera-se que o Game Pass da Microsoft ultrapasse a marca de 100 milhões de usuários entre os anos fiscais de 2029 e 2030, impulsionado pelo crescimento do mercado de jogos em nuvem para jogadores de PC.

Nesse contexto, Phil Spencer respondeu o seguinte:

“Eu não acredito que esse seja o futuro do negócio da marca Xbox. Essa apresentação pertence à nossa equipe de periféricos, para a liderança de nossa equipe de jogos, então essa é a visão de uma equipe que antecipa a construção de nosso hardware para o que nosso negócio poderia ser.

Posso dizer com certa segurança que, se não tivermos um progresso maior do que o sugerido no slide acima em relação ao nosso console, abandonaremos a indústria de jogos. Se esse fosse o nosso resultado final, a Microsoft definitivamente… não estaríamos mais nesse negócio.

Espero que a maior parte de nossos consumidores esteja em nosso próprio hardware antes de 2030. Portanto, se me perguntassem se concordo com essa projeção nas cores verde e azul, dependendo do que cada cor representa, teríamos que crescer muito mais e muito mais rápido. Estimo que deveríamos estar nessa posição entre os anos fiscais de 2026 e 2027, ou então tomaríamos decisões diferentes sobre essa indústria.”

É importante ressaltar que, quando Phil Spencer menciona “nosso hardware”, ele está especificamente se referindo ao Xbox (laptops e PCs, obviamente, são fabricados por várias empresas, mas a Microsoft não é uma delas). Em outras palavras, ele não está afirmando a necessidade de crescimento do Game Pass como um todo, mas sim da oferta específica relacionada ao Xbox.

Essa não é a primeira vez que a Microsoft faz uma promessa desse tipo: quando a aquisição da Activision Blizzard ainda estava em disputa judicial, a mesma afirmação foi feita por Phil Spencer caso os órgãos reguladores em cada país, incluindo a FTC, não aprovassem a transação. Em janeiro deste ano, a Microsoft anunciou a intenção de adquirir o grupo dono de Call of Duty e outras franquias por cerca de US$ 69 bilhões.

De qualquer forma, os fãs do Xbox não têm muito com que se preocupar: mesmo que a afirmação “a Microsoft vai abandonar os jogos” pareça extrema, a empresa está comprometida com projetos que garantam exatamente o oposto. Os mesmos documentos vazados revelaram informações interessantes, como a intenção de lançar uma nova geração de consoles em 2028 e, antes disso, uma revisão de design do Xbox Series X.

Além disso, há um foco renovado em oferecer serviços híbridos através do Xbox Cloud, além, é claro, de mais e mais jogos, o que provavelmente manterá o Game Pass em alta por mais alguns anos. Sem contar que…

Mais de 20% dos assinantes do Game Pass são provenientes do console, afirma a Microsoft

Outro dado interessante revelado nos documentos vazados é que, a partir de abril de 2022, 33,6 milhões de usuários assinantes do Game Pass estão em alguma plataforma Xbox, sendo que 21,9 milhões desses assinam algum plano exclusivo do console (excluindo o PC) e os outros 11,7 milhões ainda são membros do finado Xbox Live Gold.

Além disso, a apresentação mencionou que a taxa de retenção por usuário é de US$ 9,26 (R$ 45,47). Esse valor é um pouco menor do que o preço total mensal da assinatura do Game Pass nos EUA – US$ 9,99 (R$ 49,06). Em termos práticos, menos de um usuário por mês cancela o Game Pass, o que indica uma alta taxa de retenção de membros.

Vale ressaltar que o Xbox Live Gold está prestes a ser substituído por um novo plano conhecido como “Game Pass Core”, então esses números ainda aumentarão.